Eu gostava da Amy. Ainda estou chocado com a morte da cantora. Claro, todo mundo imaginava que ela não viveria muito se a dependência química não fosse tratada. Mas olha, o problema das drogas é mais complexo do que parece. A pessoa tem uma tendência, um desequilíbrio químico, uma condição mental. Não é simplesmente o caso de dizer "ela procurou isso" e virar as costas. Tem gente que sempre culpa a vítima, impressionante. Ela tinha um impulso destrutivo, muito gente tem. É doença. Não faz parte do projeto natural do ser humano nascer e autodestruir-se, faz? Portanto, ela tinha uma condição que a levava a isso. Um bug, uma falha, uma doença.
Era tudo tão visível, o talento, a doença. Na mesma proporção, imensos, gigantescos. E uma vida tão breve, com tanto sofrimento.
Quando fui ao show dela em São Paulo, no Anhembi, vi gente péssima na plateia, pedindo pra ela beber, aplaudindo quando ela tomava um gole. As mesmas pessoas que ESTIMULAM o doente, o viciado, a consumir o que lhe mata vai apontar dedos na cara e dizer que "foi a escolha dela".
Não escolhemos o que somos. Nem os talentos, nem as fraquezas e doenças. A gente tem que aprender a lidar, a controlar, a se tratar. Mas se tudo fosse tão simples, só questão de consciência e opção, então por que comemos comida que nos faz mal? Por que tanta gente quer emagrecer e não consegue parar de ingerir gordura, sal, açúcar, porcaria? Nunca aconteceu com você? Você decide que vai fazer uma coisa e não CONSEGUE seguir aquilo que você mesmo decidiu? Quer levantar e sente preguiça? É só questão de "força de vontade?" Claro que não. E mesmo a falta de força de vontade não É CULPA da pessoa.
Essas coisas absurdas como "gordo é sem-vergonha porque come muito", de "homossexual que fez esta opção" (a orientação sexual não é escolha e evidentemente não é uma doença, por favor), de drogados que "escolheram esse caminho", não tem sentido. Todos temos problemas, questões, condições, tanto faz o termo. Precisamos de ajuda e tratamento quando estamos doentes. Precisamos de respeito sempre. E o primeiro passo pra respeitar o problema do outro é reconhecer o nosso. Mas, né, tem que ser muito bem resolvido pra admitir sua verdade.
Eu vou chorar a morte de Amy. Como eu choraria qualquer morte prematura, qualquer vida de sofrimento.
Eu era fã.
Ainda sou.
Eu era fã.
Ainda sou.
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